Tratamentos naturais para melasma: protocolos que você pode aplicar com segurança
- Franciele Rodrigues

- 17 de out.
- 5 min de leitura
O melasma é uma condição de hiperpigmentação que tende a ser crônica e recorrente. Embora muitos tratamentos clássicos envolvam ingredientes artificiais, há um crescente interesse por cosméticos naturais e de origem botânica como alternativas ou complementos. Neste artigo, vamos explorar como montar protocolos realistas com ativos naturais, os mecanismos de ação envolvidos, precauções e expectativas de resultado.

O que é melasma: causas e desafios terapêuticos
Antes de apresentar os protocolos, vale revisitar o que sabemos do melasma e por que ele é tão desafiador:
Melasma envolve produção excessiva de melanina em certas regiões da pele, principalmente no rosto, que pode estar em níveis epidérmicos, dérmicos ou mistos.
Fatores desencadeantes incluem: radiação ultravioleta (UV), luz visível (HEV), predisposição genética, hormônios (gestação, uso de contraceptivos), inflamação e estresse oxidativo.
Um dos principais obstáculos: recorrência, muitas vezes trata-se com sucesso, mas após interrupção ou exposição solar intensa, o melasma volta.
Por isso, fotoproteção rigorosa é mandatório em todo protocolo. Sem ela, qualquer clareador fica comprometido.
Ativos naturais promissores para melasma: mecanismos e evidência
Aqui estão os principais ativos naturais ou de origem botânica que têm respaldo científico ou histórico para uso em clareamento cutâneo:
Ativo / Ingrediente | Mecanismo de ação relevante | Evidência / observações | Limitações e cuidados |
Alcaçuz (glabridina, liquiritina, extrato de Glycyrrhiza glabra) | Inibição da tirosinase, ação anti-inflamatória, supressão de vias melanogênicas | É o extrato vegetal mais estudado nas revisões de ensaios clínicos para melasma. | Pode causar reações em alguns pacientes (vermelhidão, sensibilidade) |
Extratos botânicos (camomila, romã, calêndula, hibisco) | Ação antirradical, moduladores de vias de pigmentação, sinergia | Análise com produtos botânicos mostrou efeito significativo sobre o clareamento. | Heterogeneidade dos extratos usados nos estudos; efeitos tendem a estabilizar ou diminuir com tempo |
Vitamina C (ácido ascórbico ou derivados estáveis) | Inibição da tirosinase, ação antioxidante, modulação de radicais livres | Muito usada em cosméticos; combinada com outros ativos aumenta o efeito clareador em protocolos mix. | Instabilidade (oxidação), precisa de formulação bem protegida (embalagens opacas, pH ácido) |
Niacinamida (vitamina B3) | Reduz a transferência de melanosomas para queratinócitos, ação anti-inflamatória | Recomendado em consensos recentes de tratamento de melasma (ex: Latino-Americano) como base segura. | Concentrações comuns: 4–5 %; pode causar leve ardência em peles sensíveis |
Ácido azelaico (de origem natural / biotecnológica) | Inibe tirosinase, ação seletiva sobre melanócitos hiperativos | Amplamente usado em dermatologia; muitos protocolos naturais o consideram “meio-termo” entre natural e clássico | Pode causar leve descamação/irritação; uso noturno alternado para tolerância |
Kójico, arbutina, derivados de frutas ou extratos vegetais | Inibição enzimática de tirosinase e caminhos relacionados | Órgãos revisores citam uso combinado com extratos naturais em cosméticos. | Potencial irritante; importância da introdução gradual e teste de sensibilidade |
Aloe vera (gel de folha fresca / extrato encapsulado) | Ação anti-inflamatória, conforto, possui compostos clareadores (ex: aloína) | Um estudo em gestantes com melasma demonstrou melhora com uso de preparação de aloe encapsulada. | Em algumas pessoas pode causar reações; solo complemento, não substituto de protetor solar |
Polypodium leucotomos (oral ou tópico, extrato de samambaia tropical) | ação antioxidante sistêmica, fotoproteção interna | Estudos clínicos como adjuvante demonstraram benefício em melasma quando combinado a protetor solar. | Uso oral deve ser monitorado; não substitui protetor solar tópico |
Observação: Quando falo “natural”, refiro-me a ativos de origem vegetal ou similares, não necessariamente “zero químico” (porque toda substância é química). O essencial é segurança, eficácia e menores reações adversas.
Estrutura de um protocolo natural para melasma
A seguir, uma sugestão de protocolo dividido em fases, para facilitar a introdução gradual e manutenção. Você pode adaptar conforme a tolerância da pele, disponibilidade de ativos e tipo de paciente.
Fase inicial (4 a 8 semanas): moderação, introdução gradual
Objetivo: preparar a pele, evitar irritações, introduzir ativos aos poucos.
Manhã:
Limpeza suave (não comedogênica, pH balanceado).
Sérum antioxidante, por exemplo, vitamina C (10 – 15 %) em veículo leve.
Sérum ou loção com niacinamida 4 % ou blend com extrato de alcaçuz ou arbutina leve.
Protetor solar mineral + pigmento (óxidos de ferro) para proteção contra UVA/visível.
Reaplicar protetor a cada 2 a 3 horas se houver exposição solar.
Noite:
Limpeza leve / remoção de protetor solar.
2–3 vezes por semana: ácido azelaico 10–15 % ou outro clareador leve.
Nos demais dias: sérum calmante (ex: aloe vera + extrato vegetal).
Hidratante leve (glicerina, ceramidas, aloe, extratos calmantes) para reforçar a barreira.
Durante esta fase, observe sinais de irritação (vermelhidão, ardor intenso, descamação) e ajuste frequência.
Fase de intensificação (após tolerância estabelecida)
Objetivo: aumentar o efeito clareador, usar combinações sinérgicas.
Manhã:
mantido do mesmo jeito, com reforço no protetor com pigmento.
Noite:
Introduzir blend clareador com ingredientes como alcaçuz + arbutina + kójico (em concentrações seguras).
Alternar com ácido azelaico mais concentrado (até 20 %) em noites separadas.
Manter sérum calmante nos intervalos.
Hidratante reparador com ativos anti-inflamatórios (ex: centella, bisabolol, extratos vegetais suaves).
Essa fase pode durar de 8 a 12 semanas, monitorando progresso e irritações.
Fase de manutenção
Objetivo: sustentar o resultado e prevenir recidivas.
Manter séruns antioxidantes (vitamina C, niacinamida, extrato de alcaçuz).
Uso contínuo de protetor solar pigmentado (óxidos de ferro) + reaplicações frequentes.
Se a pele tolerar, manter ácido azelaico em noites alternadas ou 3×/semana.
Intercalar com ciclos de clareadores naturais suaves.
Se houver estímulos hormonais ou exposição prolongada ao sol, intensificar temporariamente o protocolo.
Como medir progresso e ajustar o protocolo
Use fotografia padronizada (mesma iluminação, ângulo) a cada 4 semanas.
Se houver estagnação após 12 semanas, reavalie: pode ser necessário acompanhar com alternativas médicas (ácido tranexâmico, peeling suave, etc.).
Sempre introduza um novo ativo de cada vez para identificar tolerância.
Cuidados, contraindicações e limitações
Mesmo “naturais”, ativos podem causar irritação, especialmente em peles sensíveis. Faça teste de contato antes do uso.
Gestantes e lactantes exigem muito mais cautela: muitos clareadores são contraindicados ou estudados com restrições.
O melasma é multifatorial; tratar apenas a pigmentação não é suficiente sem fotoproteção, controle hormonal e modulação de fatores ambientais.
Para lesões mais profundas ou resistentes, os protocolos naturais sozinhos podem não ser suficientes.
Exemplo de protocolos prontos adaptáveis
Fase | Manhã | Noite | Frequência / Observações |
Inicial (4–8 sem) | Vitamina C + niacinamida / alcaçuz + protetor solar pigmentado | Azelaico 10–15% em noites alternadas + sérum calmante nos outros | Introduzir ativo por ativo, observar tolerância |
Intensificação (8–12 sem) | Igual | Blend clareador (alcaçuz + arbutina + kójico) alternando com azelaico | Aumentar clareadores com cautela |
Manutenção | Igual | Clareador leve 2–3×/sem + antioxidantes | Ajustes conforme estímulos solares/hormonais |
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Referências
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Parvizi MM, Hekmat M, Yousefi N, Javaheri R et al. Clinical Trials Conducted on Herbal Remedies for the Treatment of Melasma: A Scoping Review. Revisão dos ensaios clínicos envolvendo remédios herbais para melasma.Link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39710951/ PubMedOu versão full no PMC: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11837239/ PMC
Guo L, et al. Efficacy and safety of adjuvant topical application of botanical adjuvants in the treatment of melasma. Estudo recente confirmando eficácia e segurança de adjuvantes botânicos tópicos no melasma.Link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2405844024041276 ScienceDirect
Sarkar R, et al. Role of Antioxidants in Melasma: A Systematic Review. Revisão sobre o papel de antioxidantes como coadjuvantes nos tratamentos de melasma. Link: https://journals.lww.com/ijd/fulltext/2025/05000/role_of_antioxidants_in_melasma__a_systematic.2.aspxLippincott
Different therapeutic approaches in melasma: advances and challenges. Artigo de revisão que discute tratamentos diversos, incluindo agentes botânicos, desafios terapêuticos e abordagens modernas. Link: https://www.frontiersin.org/journals/pharmacology/articles/10.3389/fphar.2024.1337282/full
Zhang AD, Lazar M, et al. A Scoping Review on Melasma Treatments and Their Histopathologic Correlates. Essa revisão mais recente investiga tratamentos humanos de melasma com correlações histopatológicas. Link: https://www.mdpi.com/2296-3529/12/2/13 MDPI






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